ENERGIA-CONSCIENTE / PLASMA DE LUZ : 01/18/13

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Gilberto Amado: Chegada ao Recife…VB 10.

Data: 18/01/2013 18:16:22

Textos Notáveis, Blog do Noblat

Em 1905 Gilberto Amado, então com 18 anos, sai de seu Sergipe natal e vai para o Recife estudar Direito. A visão que guarda da chegada é a da chuva que cai. O barco Jacuípe atraca, ele desembarca e a chuva é a marca que fica. Diz ele: “Tudo se oblitera num fundo, de que, aliás, nada desejo arrancar”.
Chegada ao Recife
(...) Uma imagem risca-me a memória e se projeta para a pena: uma tabuleta - Hotel de França. Mas ter-me-ia ficado perdida na chuva da hora do desembarque se o preto que carregava a minha mala na cabeça, e que ia na minha frente, não me tivesse dito: “O senhor entre aqui no hotel até a chuva abrandar”.
Entrei... e esse momento tomou importância extraordinária por sua repercussão psicológica, por sua sobrevivência e recorrência no meu espírito. Entrei no hotel. Um gato escapuliu da sala deserta. Do interior vinha uma voz de mulher falando francês.
Achei-me, pela primeira vez, diante de uma coisa que eu nunca tinha visto: enormes espelhos de que só tinha conhecimento pelas descrições de romances. No que estava na frente, meu olhar começou a navegar como num mar siberiano, numa cinza líquida carregada de mistério.
Em Sergipe, todos os espelhos do Estado, do litoral ao sertão, de São Cristóvão e Estância, cidades velhas, a Aracaju, cidade nova, colados um ao outro, não dariam um só do tamanho dos que vi no Recife nessa primeira hora.
Eu havia estado dois anos na Bahia, mas aí só vivera em república, só frequentara casas de professores, jamais residências de luxo.
Recife e espelhos... eis a primeira imagem. A dona do hotel, a quem depois tanto conheci, veio de dentro e disse: “Bom dia, senhorrr!”
Escancarou a porta por onde eu entrara e a outra. O salão clareou-se. A luz derramou-se nos espelhos. Vi-me não só de frente como de lado, multiplicado e devolvido a mim mesmo do fundo daqueles lagos luminosos. Então tive a grande surpresa...
A mulher retirou-se de novo. Eu não tirava os olhos de mim mesmo.
Pela primeira vez me via de corpo inteiro. Até então só me tinha olhado em espelho pequeno, de parede ou pequeníssimo, de bolso, reproduzindo só rosto, gravata, pescoço. Jamais assim... todo, paletó, calças, sapatos.
Tive um choque. Aí é que tomei conhecimento da minha fealdade.
Experimentei uma espécie de recuo diante de mim próprio. Eu era “aquilo”?! Mentiria se especificasse impressões ou nuanças de sentimento. Do que recordo é do estremeção recebido.
Esse choque iria repetir-se a vida toda. Era ver-me em espelho grande, de frente, e sobretudo de perfil, era ser abalado por uma sensação brusca, quase diria de susto, diante de mim mesmo, ao me ver tal qual “a natureza em mim próprio me resolvia”.
Toda vez que ia experimentar roupa em alfaiate, onde os espelhos conjugados nos mostram de frente, de lado e de costas, essa sensação me assaltava. Sensação de mal-estar, quase diria de inimizade com o meu físico. A cabeça, grossa e pesada, se me enterrava nos ombros, formando com o torso empinado um ângulo agudo. A queixada aproava num arremesso antipático.
(...) Os alfaiates que me serviram, (...) sorriam sempre simpaticamente, com benevolência, abanando a cabeça com denegações compassivas diante da minha exclamação a respeito de mim mesmo. “Ô camarada feio!...”.
Gilberto Amado, advogado, jornalista, político, ensaísta, memorialista, diplomata, membro da Academia Brasileira de Letras, nasceu em Estância, SE, em 7 de maio de 1887, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 27 de agosto de 1969. O trecho acima é do livro ‘Minha Formação no Recife’, escrito em 1955.

net….BBB

Rio sem 'mas' ou 'porém'
Por Zuenir Ventura, Globo.com

Foto: Custódio Coimbra/O Globo

O Rio tem dessas coisas. Caroline Mathieu, representante do Museu D'Orsay de Paris e curadora da exposição Impressionismo: Paris e a Modernidade, se disse comovida com o que presenciou: em três meses em cartaz no CCBB, a mostra atraiu meio milhão de visitantes (em SP, "apenas" 320 mil). Foram tantos que no fim de semana do encerramento, no Viradão Impressionista, os salões ficaram abertos durante 36 horas ininterruptas, das 9h de sábado às 21h de domingo passado. Até idosos permaneceram por horas nas filas. "No quinto dia esperei 40 minutos; no Viradão, seis horas, mas megavaleu a pena", disse uma senhora na internet. Outra não suportou: "Na sexta, saí da fila chorando; depois de quatro horas, minhas pernas não aguentaram." Caroline não previa que aqui uma multidão pudesse se submeter a uma espécie de teste de resistência física para apreciar obras de arte francesas. Onde mais esse espetáculo poderia acontecer? É difícil responder.
Nada disso tinha acontecido ainda quando o "New York Times" colocou o Rio no topo de uma lista dos 46 destinos turísticos mais atraentes, seguido de Marselha e Nicarágua. Lá embaixo, na 46ª posição, atrás de todo mundo, ficou Paris. "Cinquenta e três anos depois de a capital federal ter se transferido para Brasília e décadas após São Paulo ter assumido o posto de capital econômica", escreveu Seth Kugel, "o Rio empreende uma volta por cima". Segundo o jornalista, a cidade famosa por seu "hedonismo carnavalesco" e impulsionada pela Copa, pelas Olimpíadas e pelo boom petrolífero, caminha agora para se tornar um centro cultural mais sofisticado.
Como novos polos de atração, Kugel cita a Cidade das Artes, recém-inaugurada, a expectativa pela chegada da Casa Daros, em Botafogo, e dos museus de Arte do Rio e do Amanhã, na Zona Portuária. Além disso, ele lembra que a cidade, que tem o hábito das compras, inaugurará em breve a primeira loja oficial da Apple na América do Sul e sua primeira Gucci, sem falar no já aberto shopping de luxo Village Mall, na Barra da Tijuca.
A Cidade Maravilhosa está acostumada aos afagos, pois nasceu para ser musa. Sempre exibiu com raro despudor suas formas e cores. Fez graça para Debret, fez pose para Rugendas e se desmanchou diante das lentes de Marc Ferrez. Algum espírito de porco vai reclamar que na matéria do jornal americano não há um "mas" ou "porém"; só elogios. Pois Kugel está certo. Afinal, turista não viaja para fuçar mazelas. Quem gosta de miséria... Joãozinho Trinta já disse.

O PIOR INIMIGO….VB 10.

E o Facebook, hein?…VB 10.
Por Sérgio Rodrigues, Veja.com

– Sabe, linda? O Facebook, não sei não.
– O que foi, gato?
– Essas mudanças nas regras de privacidade, linda. Não achei isso honesto.
– Como assim, gato?
– Hoje cliquei num artigo lá. Acabei nem lendo, era sobre tatuagens, alfinetes no umbigo, sadomasoquismo, não sei bem. Só sei que tinha fotos de uma gente muito da horrorosa e eu saí correndo. Fui ler outra coisa, esqueci o assunto, normal. Só que horas depois, linda, descobri que o Facebook estava anunciando pra todo mundo que eu tinha lido o tal artigo.
– E qual é o problema? Você clicou nele mesmo, não clicou?
– Cliquei, linda, mas não li.
– Não leu mas clicou, gato. Ou melhor, diz que não leu, vai saber se é verdade. É a sua versão. Mas que clicou, clicou, isso não é versão. É fato.
– Fato? Fala sério! O que você chama de fato eu chamo de problema meu, ninguém tem nada a ver com isso.
– Engano seu, gato. Agora tem.
– Agora quando? O que foi que mudou nas regras da decência que eu não estou sabendo?
– O que mudou é que agora estamos em rede, gato. Rede social, já ouviu falar? Não está satisfeito, é só sair. Mas saiba que lá fora não tem vida propriamente.
– Hã?
– Tem vida lá fora, claro, mas é uma versão bem piorada da vida. Por que você está me olhando assim?
– Assim como?
– Como se eu fosse um ET, gato. Até parou de me chamar de linda.
– Impressão sua. Deve ser o sinal ruim.
– Aqui o sinal está bom.
– Pois aqui está péssimo. Esse Skype, não sei não.